Marcas de dor, de oralidade e de poesia com emoção. Para recordar o espólio de Florbela Espanca, a Subscrito publica um dos seus poemas. “Eu” representa não só uma batalha interior da escritora, mas também uma procura por algo que não encontrou nesta vida.
“Eu”
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…
Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
– Florbela Espanca